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Elvis Viana
Comentário · há 9 anos
É um absurdo ver liberdades individuais mitigadas desta forma, totalmente arbitrária, sem o menor fundamento legal ou quiçá científico, se amparando em uma tese de que a "base da sociedade é a família e que esta deve ser constituída por um homem e uma mulher".

Constituir família é uma opção pessoal, um exercício de liberdade, que nada importa a qualquer outra pessoa não envolvida nessa relação, desde que esta seja praticada de forma consensual. Existe alguma prova, algum estudo, de que a união homo afetiva apresenta qualquer lesão ou ameaça para a sociedade? Se não, qual o amparo para este tipo de projeto de lei? Os palpites dos parlamentares sobre a intimidade alheia?

E, além disso, será que essas pessoas acreditam que a sociedade será mais saudável e feliz com pessoas confinadas em casamentos por obrigação, tendo de esconder suas verdadeiras aspirações, tudo isso com respaldo na lei?

Apesar de constituídos no poder legalmente e representando muitas vezes as verdadeiras aspirações de boa parte da sociedade, os governantes, parlamentares, enfim, o Estado, legisla limitado por direitos inerentes à condição humana, as liberdades individuais que compõe os direitos civis e políticos. Recorramos ao famigerado exemplo dos regimes totalitários do século XX, que agiram de conforme sua lei local ao exterminar a vida de milhões de seres humanos, sempre com a justificativa messiânica de que agiam em nome do bem comum, mesmo que isso importasse em sacrifícios desumanos.

Foi sob a sombra desse horror que o mundo se uniu no pós-guerra em torno de um objetivo comum, tornar o indivíduo sujeito internacional de direito, limitando o poder do Estado para mitigar os direitos e liberdades de seus cidadãos.

Significa dizer que a sociedade e as instituições podem e devem exteriorizar suas opiniões, buscando convencer os outros a aderirem seu conjunto de valores, mas em hipótese alguma impor pela força (ou lei, chame como quiser) essa adesão. Um exemplo menos polêmico é o vegetarianismo, as pessoas podem abdicar voluntariamente de seu direito de consumir carne e buscar convencer pessoas a aderirem sua causa, mas nunca impor a outro indivíduo que abdique de suas liberdades.

Quem defende que as liberdades individuais devem sim ser tolhidas de forma mais energética se ampara em um pressuposto racionalista de que é possível chegar a verdades absolutas por meio do raciocínio lógico e desta forma impor um comportamento uniforme, a chamada engenharia social, privando os indivíduos de “suas paixões”. Em síntese, é a ideia de tirar a liberdade de uma pessoa para que esta não perca sua liberdade, porque nós sabemos o que é melhor para ela. Seria perfeito se existisse um poder ou uma pessoa suficientemente virtuosa para aplicar essas ideias e nos guiar a perfeição, mas a história e a natureza dão provas mais do que suficientes da capacidade do ser humano em falhar. Se nós muitas vezes não sabemos o que é melhor para nossas vidas, não há como confiar em grupo para que decida pela vida de todos de forma indiscriminada. Daí surgem princípios basilares do direito, como o devido processo legal, a transparência administrativa, as liberdades públicas e etc.

Enfim, o referido projeto é absurdo por submeter um comportamento que não apresenta perigo para a sociedade a limitações impostas de forma arbitrária.
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